Imagem: João da Costa Pimenta – Presidente da Escola de Samba do Ribeiro ( Apresentação da Escola em Getulina)
João da Costa Pimenta Junior, o Zinho Pimenta, ou simplesmente Pimenta. Ele é uma das maiores referências do Samba em Lins e é impossível não associar carnaval sem mencionar ou se lembrar desse gigante carnavalesco.
Já completou 70 anos, mas parece um menino e tem na cabeça toda a história do bairro do Ribeiro e da Escola de Samba Mocidade, desde a sua fundação, sem esquecer de nenhum detalhe, pois tem uma memória extraordinária. Nasceu em Lins na Vila Ribeiro e vive exatamente no mesmo lugar, que na época era um bairro de gente muito pobre, muito degradante conhecido como Morro do Querosene.
Assim, os anos se passaram e ele acabou indo com um grupo de jovens amigos participar de um batuque que acontecia no final dos jogos de futebol, que ele era atleta profissional e se apaixonou pelo ritmo. Ele nos conta que na época nem sabia o que era samba mas os amigos dele que já frequentavam esses batuques disseram que eles estavam ensaiando para o carnaval e isso ele também não sabia bem o que era e como funcionava.
Toda a magia do samba e do carnaval se tornaram sua paixão e em 2010, foi eleito presidente da Mocidade, cargo que ocupa brilhantemente até os dias de hoje. O Zinho Pimenta faz uma gestão democrática-participativa a partir da participação, transparência e autonomia da comunidade, criando condições para garantir a qualidade no ensino e aprendizagem dos participantes, como músicos, artistas, mestre de bateria, sambistas, madrinha, rainha e princesas da bateria, porta bandeira e mestre sala, gestores, dirigentes e todos os participantes das alas que compõem a escola.
Mesmo depois de mais de uma década dirigindo a Mocidade com muito amor, respeito, afeto, acolhimento e paciência, o Zinho costuma dizer que não sabe nada de carnaval. Quem é que sabe então? O Carnaval assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, reaviva laços contrários à diluição comunitária, fortalece pertencimentos e sociabilidades e cria redes de proteção social nas frestas do desencanto.
E você o que sabe sobre o carnaval? Quando e onde surgiu? Como funciona uma escola de samba? Como é composta? Quando tempo leva para preparar um desfile? Também acha que é coisa de desocupados e baderneiros? E tantas outras dúvidas devem povoar a cabeça das pessoas que gostam e vibram com os desfiles.
Há várias versões para explicar a origem do carnaval no mundo, sendo que etimologicamente, do latim Carnis levale, o nome da festa significa ‘afastar-se da carne’ e surgiu no período pré-cristão e após das festividades finais realizadas pelos romanos católicos nos dias que antecediam a Quaresma antes da Páscoa cristã em que os devotos se abstinham de comer carne, entre outras práticas religiosas.
No Brasil o carnaval tem suas raízes históricas no período colonial, tornando-se uma lucrativa atividade comercial no século XX. O entrudo era praticada pelos escravos. Estes saíam pelas ruas com seus rostos pintados, jogando farinha e bolinhas de água de cheiro nas pessoas. Tais bolinhas nem sempre eram cheirosas, pois as vezes as pessoas eram sujas com lama, urina, ovos e por isso foi considerado violento, sendo proibido em 1841, mas continuou até meados do século XX.
As festas de carnaval mais famosas no Brasil ocorrem no Rio de Janeiro, São Paulo, grande parte da região nordeste, mas de formas diferentes e são adaptadas de acordo com a história e a cultura local. Em geral, as pessoas dançam, comem e bebem alegremente em festas, bailes de máscaras, bailes de fantasias, desfiles de blocos, escolas de samba, trios elétricos, camarotes e até na própria rua.
O carnaval gera significativa receita para a economia das cidades, aquecendo o turismo, o comércio e os empreendedores locais e a economia criativa despertando os empreendedores criativos que são movidos à paixão pelo que fazem.
Infelizmente no interior a folia de carnaval está passando longe das escolas de samba, pois a falta de apoio financeiro do poder público, tem provocado um declínio da celebração dos desfiles de rua em Lins, que já foi considerado referência no carnaval do interior do estado. É impossível as escolas concorrem a um edital de empréstimo pois não há dinheiro suficiente em caixa para realização das festividades, para receber posteriormente, após prestação de contas. No caso, do carnaval do bairro do Ribeiro a situação tornou-se mais grave pois o Ginásio Manoel do Careno (Quadra do Ribeiro), local de ensaio e ações da Escola de Samba Mocidade, encontrava-se em obras o que impossibilitou a sua utilização e obrigando a bateria e demais componentes da escola a ensaiarem nas ruas, o que além de incomodar os vizinhos, não tem infraestrutura mínima, sendo indigno para uma escola, que se esforça para realizar um desfile para a população e manter viva a maior arte popular ou esse patrimônio imaterial ancestral.
O CARNAVAL brasileiro não se resume a 4 noites de alegria e diversão. Ele é criado e nutrido o ano todo por diferentes ações que as comunidades realizam com muita dedicação, sem apoio, sem reconhecimento, para manter viva suas tradições, que estão ligadas aos seus antepassados, suas famílias e os seus bairros. O Carnaval no nosso País é muito mais que uma festa. É sim um ATO SOCIAL!
Pode-se afirmar que o carnaval é a maior tradição cultural popular, mas que ainda é marginalizada, criminalizada e usada como trampolim político. O descaso com os artistas do carnaval é imenso e notório. É preciso estar na comunidade, ouvir as pessoas, compreender suas necessidades reais para saber quanto custa fazer carnaval, diante de tantas necessidades básicas. São cantores, sambistas, passistas, poetas, são sonhadores apaixonadas pela música, pela fantasia, são crianças, idosos, são homens e mulheres que trabalham duro por cada lantejoula e confete colorido.
A história do carnaval, se entrelaça a história de uma comunidade, de uma cidade, de uma família e de uma pessoa. São pessoas residentes nas periferias, com poucas ou nenhuma oportunidade de lazer e de cultuar a sua ancestralidade, mas que esbanjam alegria, inteligência, arte e muita cultura.
As escolas de samba acolhem a diversidade, sendo um exemplo de democracia, de amor, de afeto e um exercício humanidade incrível. O respeito que a escola tem pela velha guarda é o respeito que a nossa sociedade deveria ter pelos mais velhos. O cuidado com a ala de crianças é a forma com que a gente deveria tratar as crianças. Muitos exemplos bons estão numa escola de samba, que é um lugar d ensino e aprendizagem. Como se isso não bastasse, ainda há formação de compositores, intérpretes de samba, carnavalescos, aderecistas, mestres de bateria, líderes de alas, dentre outras funções necessárias ao andamento da Escola de Samba, sempre se destacando por sua perseverança e criatividade e ainda tem diversão, tem o churrasquinho comunitário, tem a emoção de quando a escola começa a desfilar e a plateia vem junto e todos se derramam em lágrimas e lembranças eternizadas e tatuadas nos corações.
A Mocidade Independente do Ribeiro apesar de todas as dificuldades conseguiu desfilar na Avenida Nilo Noronha, pelo segundo ano consecutivo pós pandemia, num espetáculo que atraiu centenas de pessoas de Lins e região. Nossos mais profundos agradecimentos pelo apoio da Prefeitura Municipal de Lins, que montou toda a estrutura de som, iluminação e banheiros, a Polícia Militar, a Guarda Municipal, a Secretaria da Saúde, Cultura e Esportes, aos vereadores Ailton Gomes e Lima Moto táxi que prestigiaram o desfile e ensaios, o Professor João Mendes de Cafelândia, o Carlos Moreno do OlaTV, Jornal Debate e Jornal Lins, todos os componentes da escola Mocidade, especialmente ao incansável mestre da bateria furiosa Nenê, sempre gentil com todos os ritmistas, os intérpretes Jorge Jimbera, Tethé e Bruno Rodrigues, o cavaquista Clebinho, o compositor Cassio Melodia, os foliões, simpatizantes, o público presente no desfile, os moradores da Avenida Nilo Noronha, todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a apresentação do nosso magnífico e inesquecível desfile. E entre todos os agradecimentos não posso deixar de citar a nossa estrela principal, o nosso presidente João da Costa PIMENTA Junior, que com maestria sabe pelejar com uma festa popular, criativa, feliz, dinâmica, divertida, interativa, coletiva, inclusiva, alegre, diversa, intensa, colorida, desestressante, barulhenta e rueira.
Vencendo todo tido de opressão, de marginalização da cultura popular, da falta de apoio para um desfile apoteótico, o CARNAVAL RESISTE E RESISTIRÁ!
Inspirada no compositor, cantor e escritor Chico Buarque concluo:” No Carnaval, esperança, que gente longe viva na lembrança, que gente triste possa entrar na dança e que gente grande saiba ser criança”.
Elisete Peixoto de Lima é professora nas áreas de Biologia e química e mestre em saúde coletiva e Membro da Escola de Samba Mocidade Azul e Branco do Ribeiro.
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